Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

Vencendo adversidades e obstáculos<br>lutamos com confiança

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No li­miar do en­cer­ra­mento desta 34.ª Festa do Avante! per­mitam-me que saúde todos aqueles que a pro­jec­taram, cons­truíram, re­a­li­zaram e nela par­ti­ci­param, con­tri­buindo assim para o seu êxito e a re­a­fir­mação de es­tarmos pe­rante o maior acon­te­ci­mento po­lí­tico e cul­tural que se re­a­liza no País.

Por aqui per­passou a ale­gria con­ta­gi­ante da ju­ven­tude, a es­pe­rança e a con­fi­ança dos que re­cusam as ine­vi­ta­bi­li­dades e a re­sig­nação, por aqui passou e passa a so­li­da­ri­e­dade hu­mana, se deu o valor ao tra­balho, à cri­a­ti­vi­dade, ao que de mais nobre tem a po­lí­tica, se pro­jectou o sonho e o ideal, sem dú­vida mais avan­çado que a re­a­li­dade mas que, trans­for­mado em luta, le­vará a que o sonho e a re­a­li­dade hão-de acertar o passo.

Festa do tra­balho e da arte


Uma Festa que é um es­paço pri­vi­le­giado para a cul­tura e a cri­ação ar­tís­tica. Aqui, com es­forço mas com grande fra­ter­ni­dade, cri­amos con­di­ções para que ar­tistas e cri­a­dores de todas as formas de ex­pressão en­con­trem lugar e es­paço para apre­sen­tarem aos vi­si­tantes da Festa os re­sul­tados do seu tra­balho e do seu modo de olhar o Mundo.

Também neste as­pecto a Festa do Avante! tem um ca­rácter dis­tin­tivo, con­tra­ri­ando a dura re­a­li­dade que cri­a­dores e ar­tistas en­frentam di­a­ri­a­mente. En­quanto aqui se pro­move, se in­cen­tiva, se di­vulga, se apoia o tra­balho dos cri­a­dores e ar­tistas, lá fora, no Por­tugal da po­lí­tica de di­reita, os cri­a­dores e ar­tistas, os tra­ba­lha­dores da cul­tura, vêem a sua ac­ti­vi­dade e os seus pro­jectos en­tra­vados e blo­que­ados por uma po­lí­tica cul­tural que é a úl­tima das pri­o­ri­dades, eli­ti­zada e con­cen­trada em meia dúzia de equi­pa­mentos e ini­ci­a­tivas, a cujo sub-fi­nan­ci­a­mento cró­nico se vi­eram juntar este ano as drás­ticas me­didas adop­tadas na sequência do PEC PS/​PSD.

Neste ano de 2010, com o se­gundo or­ça­mento mais baixo para a cul­tura desta dé­cada, o Mi­nis­tério da Cul­tura veio ainda agravar a si­tu­ação com es­can­da­losos cortes nos já ma­gros apoios à cri­ação, cortes que são to­tais no que diz res­peito ao se­gundo se­mestre do ano.

Nós sau­damos daqui os cri­a­dores e tra­ba­lha­dores, pela sig­ni­fi­ca­tiva re­sis­tência que têm oposto a estas me­didas, e ape­lamos a que pros­sigam o seu com­bate. Para nós, co­mu­nistas, a arte e a cul­tura são com­pa­nheiras de ca­minho in­dis­pen­sá­veis, que con­nosco par­ti­cipam no pro­cesso de li­ber­tação e de eman­ci­pação hu­mana e de trans­for­mação do mundo e da vida que são a nossa razão de existir.

O tra­balho e a arte, os dois prin­ci­pais ele­mentos cons­tru­tores da hu­ma­ni­dade, estão in­dis­so­lu­vel­mente li­gados à iden­ti­dade da nossa Festa do Avante!. Uma Festa que, tendo pro­fundas raízes no povo tra­ba­lhador do nosso País, sendo ex­pressão da sua cul­tura, se afirma também como uma bela e viva ex­pressão do in­ter­na­ci­o­na­lismo do PCP, da nossa so­li­da­ri­e­dade para com aqueles que pros­se­guem, nas mais di­versas con­di­ções, a luta pelo pro­gresso so­cial, pela paz, a ami­zade e a co­o­pe­ração entre os povos, pela trans­for­mação re­vo­lu­ci­o­nária da so­ci­e­dade e pela al­ter­na­tiva que se cons­trói na luta e, através dela, o so­ci­a­lismo.

Uma Festa em que sen­timos o abraço ca­lo­roso de todos aqueles aqui re­pre­sen­tados pelas de­zenas de de­le­ga­ções de Par­tidos Co­mu­nistas e Pro­gres­sistas de todo o Mundo. A todos eles que­remos saudar e rei­terar a nossa dis­po­ni­bi­li­dade para es­treitar os laços de ami­zade e so­li­da­ri­e­dade que nos unem e para apro­fundar a nossa co­o­pe­ração em de­fesa dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e dos povos no for­ta­le­ci­mento da luta anti-im­pe­ri­a­lista.


A crise e os «des­fa­sados»


Uma co­o­pe­ração que é tão mais im­por­tante, quanto hoje os tra­ba­lha­dores e os povos so­frem vi­o­len­ta­mente as con­sequên­cias do apro­fun­da­mento da crise do ca­pi­ta­lismo. Uma crise que, como o PCP previu, está longe de ser ul­tra­pas­sada, se apro­funda e re­vela as pro­fundas con­tra­di­ções do sis­tema ca­pi­ta­lista, o seu ca­rácter ex­plo­rador, de­su­mano e des­truidor, os seus li­mites e a ne­ces­si­dade his­tó­rica da sua su­pe­ração re­vo­lu­ci­o­nária.

Uma crise que, apesar das in­tensas ma­no­bras de pro­pa­ganda e das ten­ta­tivas de re­a­bi­li­tação da ide­o­logia do­mi­nante, nos mostra que o sis­tema ca­pi­ta­lista contém em si mesmo a crise, tra­zendo para a ri­balta da re­flexão po­lí­tica e ide­o­ló­gica a ac­tu­a­li­dade e va­li­dade das teses fun­da­men­tais do mar­xismo-le­ni­nismo sobre o fun­ci­o­na­mento do ca­pi­ta­lismo.

Al­guns dirão que es­tamos des­fa­sados no tempo e na His­tória com tal afir­mação. A esses res­pon­demos que são eles que estão des­fa­sados e des­lo­cados! Não só no tempo e na His­tória, mas também da re­a­li­dade. A re­a­li­dade, a «mo­der­ni­dade», como eles dizem, é a do au­mento ex­po­nen­cial do de­sem­prego, da po­breza a crescer de dia para dia, dos mi­lhões e mi­lhões de seres hu­manos que so­bre­vivem na in­di­gência, das gri­tantes in­jus­tiças e de­si­gual­dades.

Esta é a re­a­li­dade que aqueles que nos atacam com ve­lhos e es­ta­fados cha­vões se re­cusam a re­co­nhecer, a re­a­li­dade que é o mais po­de­roso li­belo acu­sa­tório contra a sua ide­o­logia, as suas op­ções de classe e o sis­tema que está a con­duzir a Hu­ma­ni­dade a um beco sem saída. Por isso, as classes do­mi­nantes lançam-se, como aler­támos há exac­ta­mente um ano aqui mesmo, numa pe­ri­gosa e cri­mi­nosa fuga para a frente face ao apro­fun­da­mento da crise.

Aí estão já os efeitos das me­didas que visam levar a cabo uma re­gressão his­tó­rica de sé­culos, através do cri­mi­noso ataque a di­reitos con­quis­tados pela luta do mo­vi­mento ope­rário e dos tra­ba­lha­dores, uma ten­ta­tiva que só por si de­monstra como falsos foram os dis­cursos já es­que­cidos da «res­pon­sa­bi­li­dade» e da «re­gu­lação», com que en­fei­taram a sua es­tra­tégia de mudar o ne­ces­sário – ou seja nada – para que tudo fi­casse na mesma.

Exemplo deste ataque em toda a linha aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e dos povos, e de si­mul­tâneo apoio ao grande ca­pital, é a si­tu­ação na Eu­ropa. Ar­mada com o fa­mi­ge­rado Tra­tado de Lisboa, im­posto an­ti­de­mo­cra­ti­ca­mente aos povos, com a ultra-ne­o­li­beral Es­tra­tégia 2020, com as pe­re­grinas ideias do go­verno eco­nó­mico eu­ropeu e da apro­vação prévia dos or­ça­mentos do Es­tado, a União Eu­ro­peia con­firma-se neste ce­nário de crise como um po­de­roso ins­tru­mento de do­mínio e ex­plo­ração ca­pi­ta­lista.

É hoje por de­mais evi­dente que o tão pro­pa­lado «es­cudo eu­ropeu» contra a crise se re­velou, afinal, como uma au­tên­tica pe­neira, que atira a palha para os tra­ba­lha­dores e as eco­no­mias mais frá­geis e de­pen­dentes, como a por­tu­guesa, guar­dando o limpo e va­lioso trigo para os grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros e as eco­no­mias mais po­de­rosas, como a alemã.

Àqueles que in­sistem na es­ta­fada ideia de «mais Eu­ropa» para fazer frente à crise, res­pon­demos que mais dessa sua «Eu­ropa» sig­ni­fi­cará mais crise, pois os seus fun­da­mentos são os mesmos fun­da­mentos do sis­tema que está em crise. Para todos esses que querem impor a sua Eu­ropa – a Eu­ropa ne­o­li­beral, mi­li­ta­rista e fe­de­ra­lista, a União Eu­ro­peia da ex­plo­ração e da opressão – a nossa res­posta só pode ser uma: luta! Luta por uma outra Eu­ropa – pela Eu­ropa dos tra­ba­lha­dores e dos povos, da paz e da co­o­pe­ração, do di­reito ao de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico e so­cial, à pro­dução, à so­be­rania como ex­pressão do exer­cício da de­mo­cracia.

É por outra Eu­ropa que es­tamos em luta. E na luta por essa outra Eu­ropa não es­tamos so­zi­nhos. Deste co­mício que­remos saudar muito ca­lo­ro­sa­mente todos aqueles que, seja em Por­tugal ou na Grécia, seja na vi­zinha Es­panha, em França, na Itália, no Leste eu­ropeu e em muitos ou­tros países, têm pro­ta­go­ni­zado im­por­tan­tís­simas jor­nadas de luta so­cial e de massas.

Uma luta so­cial que tanto mais forte se tor­nará quanto mais fortes forem os Par­tidos Co­mu­nistas e mais li­gados às massas es­ti­verem.

Uma luta de classe que, por isso mesmo, se tem de in­ter­ligar com ou­tras frentes, como a im­por­tante ba­talha pela paz, contra o mi­li­ta­rismo, o im­pe­ri­a­lismo e os pe­rigos imensos que a Hu­ma­ni­dade en­frenta.

Muitos de vós es­tarão de­certo re­lem­brados dos dis­cursos que mar­caram o ano de 2009. Fa­lava-se muito de «mu­dança» e do «diá­logo». Foi o tempo, que al­guns pa­recem agora fingir não ter vi­vido, do Prémio Nobel para Obama e das pro­messas es­far­ra­padas da paz mun­dial e do fim do uni­la­te­ra­lismo. O Mundo ia mudar, dizia-se…

Aqueles que tanto cri­ti­caram o PCP, quando afir­mámos a ne­ces­si­dade de con­firmar com os factos esses ela­bo­rados dis­cursos, que falem agora! Que falem e nos digam o que pensam da pro­fusão de focos de tensão em todo o Mundo.

Que falem e nos dêem a sua opi­nião sobre o que pensam das novas formas de co­lo­ni­zação, como a dita re­ti­rada do Iraque que se saldou afinal na per­ma­nência de 50 mil mi­li­tares dos EUA na­quele país por tempo in­de­ter­mi­nado. Que falem e nos contem dos seus sen­ti­mentos re­la­ti­va­mente à cha­cina em curso no Afe­ga­nistão, ao alar­ga­mento da guerra para o Pa­quistão. Que falem e nos digam o que pensam sobre a es­tra­tégia de tensão e in­ge­rência em todo o Médio Ori­ente.

Que falem e nos contem como ava­liam a hi­po­crisia dos EUA e da NATO re­la­ti­va­mente à questão nu­clear, ao mesmo tempo que re­a­bi­litam em vá­rias partes do Mundo a guerra das es­trelas de Re­agan, de Bush e agora de Obama e apoiam in­con­di­ci­o­nal­mente Is­rael, a única po­tência nu­clear no Médio Ori­ente.

Que falem e nos façam chegar o que pensam dos su­ces­sivos crimes de Is­rael contra os povos da re­gião, como o li­banês e o mártir povo pa­les­ti­niano, que daqui sau­damos e a quem trans­mi­timos a nossa pro­funda so­li­da­ri­e­dade.

Que falem e nos digam o que pensam sobre as ma­no­bras de de­ses­ta­bi­li­zação e mi­li­ta­ri­zação em curso no con­ti­nente la­tino-ame­ri­cano ou ainda sobre as con­ti­nu­adas in­ge­rên­cias, cons­pi­ra­ções e ame­aças pre­sentes nesse con­ti­nente e es­pe­ci­al­mente contra a Ve­ne­zuela bo­li­va­riana e contra Cuba so­ci­a­lista, a quem sau­damos muito ca­lo­ro­sa­mente, afir­mando deste co­mício que podem contar con­nosco!

De facto, a si­tu­ação é tal que al­guns se ca­laram mesmo, com­pro­me­tidos e, atre­vemo-nos a dizer, en­ver­go­nhados. Mas há ou­tros que não. Há os que in­sistem na cri­mi­nosa es­tra­tégia be­li­cista do im­pe­ri­a­lismo e de for­ta­le­ci­mento dos blocos po­lí­tico-mi­li­tares como a NATO. Esses sau­darão com toda a cer­teza a ci­meira da NATO que se vai re­a­lizar no nosso País em No­vembro. Sau­darão o au­mento dos gastos mi­li­tares e o novo Con­ceito Es­tra­té­gico, que afirma que a NATO in­ter­virá em qual­quer parte do mundo, quando en­tender e sob qual­quer pre­texto. Dirão que para a Eu­ropa ter mais peso pre­cisa gastar mais na in­dús­tria da morte.

Na fo­to­grafia desta ci­meira, tal como na ci­meira da guerra, das Lajes, es­tará o Go­verno por­tu­guês. Bar­roso será subs­ti­tuído por Só­crates. E essa imagem do pri­meiro-mi­nistro, Se­cre­tário-geral do PS, an­fi­trião da pri­meira ci­meira da NATO em Por­tugal, fi­cará para a His­tória como a mais su­blime prova do se­gui­dismo e par­ti­ci­pação da po­lí­tica ex­terna do Go­verno do PS nos pro­jectos do im­pe­ri­a­lismo mun­dial.

Mas, ao reu­nirem em Lisboa, em mais um exer­cício de hi­po­crisia vi­sando novas ame­aças para a paz mun­dial, terão em Lisboa, na Ave­nida que da Li­ber­dade tem nome, todos aqueles que não se con­formam, não se re­signam, lutam ver­da­dei­ra­mente pela paz e a co­o­pe­ração entre os povos e que vão gritar «Paz Sim, NATO Não!».

E o PCP lá es­tará, como sempre, ao seu lado! Nesta e em todas as lutas que con­tri­buam para travar o passo ao im­pe­ri­a­lismo, que nestes tempos pa­rece todo po­de­roso mas que, como a re­a­li­dade de­monstra, não tem as mãos to­tal­mente li­vres e se con­fronta com a re­sis­tência e luta, seja no Médio Ori­ente e Ásia Cen­tral, aqui na Eu­ropa ou na Amé­rica La­tina, onde os povos pro­ta­go­nizam pro­cessos re­vo­lu­ci­o­ná­rios de afir­mação da sua so­be­rania e in­de­pen­dência e se lançam na cons­trução de novas ave­nidas da es­pe­rança e do fu­turo.


Re­sistir e abrir ca­minho

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Sabemos que os tempos são difíceis. Temos consciência de que, por vezes, a situação parece esmagadora e nos é apresentada como inevitável. Mas a História já nos ensinou e a realidade confirma que é possível resistir, trilhar caminhos, engrossar fileiras e construir paulatinamente, sempre com as massas, passo a passo, etapa a etapa, a terra sem amos de que nos fala a nossa Internacional.

A ofen­siva a que as­sis­timos no plano in­ter­na­ci­onal, sob o co­mando dos grandes di­rec­tó­rios do ca­pi­ta­lismo eu­ropeu e mun­dial, con­cre­tiza-se em Por­tugal pela mão e ini­ci­a­tiva con­junta das forças da po­lí­tica de di­reita, par­ti­cu­lar­mente pela acção con­cer­tada do Go­verno do PS e do PSD, que acor­daram e têm em curso um pro­jecto comum para impor aos tra­ba­lha­dores e ao povo por­tu­guês um brutal re­tro­cesso nas suas con­di­ções de vida. São os mesmos que, jun­ta­mente com o CDS, têm con­du­zido o País para a grave si­tu­ação de crise eco­nó­mica e so­cial em que se en­contra, que estão a con­duzir a nova es­ca­lada da ofen­siva, a co­berto de fin­gidas zangas e en­ce­nadas di­ver­gên­cias.

No nosso País, que há muito vive a sua pró­pria crise, a nova es­ca­lada que está em curso, que pro­longa a tra­jec­tória de re­gressão eco­nó­mica e so­cial de anos de go­ver­nação à di­reita, tem efeitos so­ciais de­vas­ta­dores que atingem cada vez mais largas ca­madas da po­pu­lação por­tu­guesa e os seus de­gra­dados pa­drões de vida.

Há um ano, com as elei­ções à porta, o PS, José Só­crates e o seu Go­verno, pe­rante a evi­dência da di­mensão da crise, da gra­vi­dade dos pro­blemas eco­nó­micos e so­ciais e o re­ceio da der­rota e da perda da sua mai­oria ab­so­luta, anun­ci­avam ao País a ne­ces­si­dade de re­con­si­derar as suas po­lí­ticas. Era o tempo das pro­messas de mais in­ves­ti­mento para criar em­prego; do anúncio de mais apoios so­ciais para com­bater as con­sequên­cias da crise; da re­núncia em pa­la­vras às ori­en­ta­ções do ne­o­li­be­ra­lismo do­mi­nante. Era o dis­curso-farsa de dis­tan­ci­a­mento em re­lação à di­reita e de de­mar­cação em re­lação às ac­ti­vi­dades pre­da­doras do grande ca­pital es­pe­cu­la­tivo.

Pas­sadas as elei­ções, ga­ran­tidos os votos, não tardou a dar dito por não dito e, em ali­ança com a di­reita que pro­metia com­bater e contra a qual afir­mava um pro­jecto al­ter­na­tivo, a re­tomar a mesma po­lí­tica de sempre, agora de forma agra­vada, com a ca­ri­cata jus­ti­fi­cação que o mundo tinha su­bi­ta­mente mu­dado.

Nessa al­tura afir­mámos, a partir desta tri­buna da nossa Festa, que o PS, tal como o PSD, tinha uma agenda es­con­dida que ocul­tava aos por­tu­gueses os seus reais pro­pó­sitos, que não coin­ci­diam com o pro­grama anun­ciado. Não nos en­ga­námos. Essa agenda é hoje muito clara: im­po­sição de novos e mais gra­vosos sa­cri­fí­cios para os tra­ba­lha­dores e as classes e ca­madas po­pu­lares; drás­tica re­dução do valor dos ren­di­mentos do tra­balho; re­dução e anu­lação de di­reitos e apoios so­ciais, mais pri­va­ti­za­ções, novo ataque aos ser­viços pú­blicos e mais be­nesses para o grande ca­pital.

É este o seu ver­da­deiro pro­grama, ele­vado a pro­grama comum do PS e do PSD e ins­crito no PEC, nesse fa­mi­ge­rado Pro­grama cha­mado de Es­ta­bi­li­dade e Cres­ci­mento que ambos acor­daram para con­cre­tizar até 2013 e que mais não é do que um pro­grama de ins­ta­bi­li­dade so­cial, mas igual­mente de re­tro­cesso e de­clínio na­ci­onal.

De ins­ta­bi­li­dade so­cial, porque as me­didas pre­vistas vão tornar ainda mais di­fícil e pre­cária a vida de mi­lhões de por­tu­gueses, avo­lu­mando mais as in­jus­tiças e de­si­gual­dades na re­par­tição do ren­di­mento na­ci­onal, através de me­didas como o roubo nos sa­lá­rios com o au­mento das taxas de IRS, o agra­va­mento do IVA e con­se­quente au­mento dos bens e ser­viços de pri­meira ne­ces­si­dade. Mas também o au­mento da po­breza e das de­si­gual­dades so­ciais, que se am­pliam com a cri­mi­nosa po­lí­tica de cortes nos apoios so­ciais que acabam de en­trar em vigor e que atingem par­ti­cu­lar­mente as ca­madas da po­pu­lação mais des­pro­te­gidas – os de­sem­pre­gados, os mais ve­lhos e os pen­si­o­nistas de mais fracos ren­di­mentos, os do­entes, os de­fi­ci­entes, os que estão na fron­teira da ex­clusão so­cial.

Cortes que se estão a con­cre­tizar na re­dução das com­par­ti­ci­pa­ções nos me­di­ca­mentos, nas taxas mo­de­ra­doras, na acção so­cial es­colar, na res­trição dos apoios aos de­sem­pre­gados, no Ren­di­mento So­cial de In­serção, no apoio aos do­entes aca­mados e nou­tras pres­ta­ções so­ciais. Desde an­te­ontem mi­lhares de pes­soas de­ses­pe­radas estão a di­rigir-se à Se­gu­rança So­cial com o papel na mão que os in­forma que vão ficar sem ne­nhum apoio.

Mas é igual­mente um Pro­grama de re­tro­cesso e de­clínio na­ci­onal, porque com­porta uma es­tra­tégia sui­cida de re­núncia a uma po­lí­tica de cres­ci­mento, de­sen­vol­vi­mento e em­prego, para dar lugar ao re­gresso, a todo o vapor, da di­ta­dura do dé­fice, no­va­mente ins­ti­tuído er­ra­da­mente como o pro­blema cen­tral do País.

Um Pro­grama di­ri­gido contra a pró­pria eco­nomia na­ci­onal, que verá acen­tuar-se a ac­tual ten­dência para a es­tag­nação, com o aban­dono do in­ves­ti­mento pú­blico, as anun­ci­adas pri­va­ti­za­ções de im­por­tantes em­presas e sec­tores es­tra­té­gicos, mas também com o ataque ao poder local e a eli­mi­nação de ser­viços pú­blicos.

Po­lí­tica de di­reita com re­sul­tados à vista


Com esta po­lí­tica, nem se com­bate a crise, nem se re­solvem os pro­blemas na­ci­o­nais que as­sumem uma nova e mais pre­o­cu­pante di­mensão. O re­sul­tado está à vista no ele­va­dís­simo de­sem­prego, que per­ma­nece a ní­veis nunca antes atin­gidos e sem pers­pec­tivas de in­versão; no pro­lon­ga­mento da es­tag­nação eco­nó­mica, com des­truição da ca­pa­ci­dade pro­du­tiva na­ci­onal, que pre­o­cu­pan­te­mente pros­segue com novas fa­lên­cias e novos en­cer­ra­mentos; no au­mento da su­fo­cante dí­vida ex­terna global (pú­blica e pri­vada); no agra­va­mento das ba­lanças ex­ternas e na cres­cente de­pen­dência do País, no em­po­bre­ci­mento re­la­tivo do País e dos por­tu­gueses; na per­sis­tência dessa larga mancha de po­breza que atinge dois mi­lhões de por­tu­gueses.

Mas igual­mente na am­pli­tude da pre­ca­ri­e­dade das re­la­ções la­bo­rais, que está a con­tri­buir, jun­ta­mente com o de­sem­prego, para o ace­le­rado re­tro­cesso das con­di­ções de vida da grande massa tra­ba­lha­dora, par­ti­cu­lar­mente dos jo­vens. Uma chaga so­cial que urge com­bater, lu­tando para que o Es­tado as­suma como po­lí­tica o com­bate ao tra­balho pre­cário, as­se­gu­rando na lei que a um posto de tra­balho per­ma­nente cor­res­ponda um con­trato efec­tivo de tra­balho. É isso que fa­remos, com a re­a­pre­sen­tação em breve de um Pro­grama Na­ci­onal de com­bate à pre­ca­ri­e­dade e ao tra­balho ilegal.

Neste pri­meiro ano do II Go­verno do PS de José Só­crates, o que so­bressai não é apenas o fra­casso de uma po­lí­tica e de uma go­ver­nação que não tem res­postas para os pro­blemas do País, é o Por­tugal das in­jus­tiças e das de­si­gual­dades que pros­segue. Pros­segue sob a farsa da de­fesa do «Es­tado so­cial», que serve ao PS para as suas guerras do «ale­crim e man­je­rona» com o PSD sobre o Ser­viço Na­ci­onal de Saúde e sobre a Edu­cação, mas que não tem cor­res­pon­dência com a prá­tica da sua go­ver­nação e que apenas tem um ob­jec­tivo: manter à tona de água a po­lí­tica de di­reita!

O PS e o seu Go­verno apre­sentam-se como pa­la­dinos da de­fesa do «Es­tado so­cial», mas não têm feito outra coisa que o fra­gi­lizar, des­man­telar e mu­tilar, passo a passo, me­dida a me­dida, de forma avulsa ou sob a capa das re­formas es­tru­tu­rais ina­diá­veis para o salvar. Temos visto nas al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral, na cha­mada re­forma da Se­gu­rança So­cial, na ac­tual ofen­siva anti-so­cial. Vemos isso no ataque ao di­reito à Saúde e à Edu­cação, que são hoje mo­tivo de grande pre­o­cu­pação dos por­tu­gueses.

Na Edu­cação, o Go­verno mais não faz do que hi­po­tecar a Es­cola Pú­blica ao mesmo tempo que a tem con­du­zido para o ob­jec­tivo da per­pe­tu­ação das as­si­me­trias e in­jus­tiças, tor­nando-a num me­ca­nismo re­pro­dutor das de­si­gual­dades e das re­la­ções do­mi­nantes.

O Go­verno pre­para-se para inau­gurar em 5 de Ou­tubro umas de­zenas de es­colas, al­gumas já em fun­ci­o­na­mento ou apenas me­lho­radas no seu as­pecto; mas o que é re­le­vante na po­lí­tica edu­ca­tiva deste como do an­te­rior Go­verno é a pa­lavra de ordem de «cortar e en­cerrar», que já levou ao fecho, em quatro anos, de mais de 3500 es­colas, à re­dução do apoio a de­zenas de mi­lhares de cri­anças com ne­ces­si­dades edu­ca­tivas es­pe­ciais, ao au­mento da pre­ca­ri­e­dade do corpo do­cente e não do­cente e ao au­mento dos custos com a Edu­cação para as fa­mí­lias.

No En­sino Su­pe­rior, aí está a con­fir­mação do que há muito o PCP de­nun­ciou: a in­te­gração do nosso sis­tema de en­sino no cha­mado «pro­cesso de Bo­lonha», as al­te­ra­ções in­tro­du­zidas no seu re­gime ju­rí­dico, o sub-fi­nan­ci­a­mento cró­nico, os cortes na Acção So­cial Es­colar e o cres­ci­mento do valor das pro­pinas que, para além do que sig­ni­fica de des­va­lo­ri­zação do En­sino Su­pe­rior em Por­tugal, tem o ob­jec­tivo claro de co­locar as ins­ti­tui­ções na de­pen­dência dos grandes in­te­resses eco­nó­micos, li­mi­tando desta forma o acesso da grande mai­oria dos jo­vens por­tu­gueses ao co­nhe­ci­mento.

São por isso justas a nossa luta e a nossa pro­posta que de­fende como pri­o­ri­dade es­tra­té­gica o in­ves­ti­mento na Es­cola Pú­blica de qua­li­dade, com gra­tui­ti­dade de todo o en­sino pú­blico - ob­jec­tivo a atingir de forma pro­gres­siva, num prazo má­ximo de seis anos, com a dis­tri­buição gra­tuita dos ma­nuais es­co­lares no en­sino obri­ga­tório já no pre­sente ano lec­tivo.

Também na Saúde, são evi­dentes as con­tra­di­ções entre a re­tó­rica do dis­curso dos go­ver­nantes, de de­fesa in­tran­si­gente do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, e uma es­tra­tégia que têm vindo a exe­cutar me­ti­cu­lo­sa­mente de pri­va­ti­zação do SNS, bem pa­tente no facto de 60 por cento dos gastos em saúde serem feitos no sector pri­vado, que já detém cerca de 50 por cento dos ser­viços de saúde.

Pri­va­ti­zação que tem sido ga­ran­tida seja por re­forço da compra de ser­viços a pres­ta­dores pri­vados, de que o es­can­da­loso ne­gócio da ADSE é um exemplo, a par da res­trição do in­ves­ti­mento pú­blico, seja por en­trega da gestão a grupos pri­vados, cri­ação de so­ci­e­dades anó­nimas ou através de par­ce­rias pú­blico-pri­vadas e que en­cerra sempre o con­ceito de mer­cado.

A de­fesa de ser­viços pú­blicos de Saúde para todos os por­tu­gueses es­tará sempre pre­sente no nosso com­bate, par­ti­cu­lar­mente quando existe o risco imi­nente da de­sa­gre­gação da rede de Cui­dados de Saúde Pri­má­rios, que impõe a adopção ime­diata de um Plano de Emer­gência, que pre­vina si­tu­a­ções de rup­tura na pres­tação dos ser­viços e que as­se­gure as con­di­ções de re­a­ber­tura dos ser­viços en­cer­rados sem al­ter­na­tiva eficaz, de­sig­na­da­mente os SAP ou si­mi­lares.

O rumo que o País segue é o da de­gra­dação da de­mo­cracia po­lí­tica, da de­mo­cracia eco­nó­mica, so­cial e cul­tural, que se re­flecte e atinge todos os do­mí­nios da nossa vida co­lec­tiva e sub­verte o pró­prio re­gime de­mo­crá­tico. De­gra­dação que atinge também a Jus­tiça. O nosso Par­tido sempre tem de­nun­ciado o pro­cesso de cerco à in­de­pen­dência da Jus­tiça e dos tri­bu­nais e as ten­ta­tivas e ini­ci­a­tivas de con­trolo cada vez maior do poder ju­di­cial pelo poder po­lí­tico e eco­nó­mico.

Temos de­nun­ciado o ca­minho per­cor­rido pelo PS e PSD, no­me­a­da­mente com o seu Pacto da Jus­tiça, mas também pelo CDS, no ter­reno le­gis­la­tivo, po­lí­tico e ins­ti­tu­ci­onal em con­for­mi­dade com as exi­gên­cias dos grandes in­te­resses eco­nó­micos e fi­nan­ceiros.

Temos cri­ti­cado o acen­tuar do con­teúdo de classe da Jus­tiça, cada vez menos aces­sível aos tra­ba­lha­dores, mais cara e mais de­mo­rada, tal como temos feito pro­postas para con­tra­riar esta ten­dência.

Temos de­nun­ciado a Jus­tiça da «malha larga» para os po­de­rosos, a im­pu­ni­dade de que gozam, os pro­cessos (Face Oculta, Por­tu­cale, Fu­racão e sub­ma­rinos, entre ou­tros) onde reinam as pres­cri­ções, o ar­qui­va­mento e as penas ir­re­le­vantes, em re­sul­tado das cam­pa­nhas, das me­didas le­gis­la­tivas, dos com­pro­missos do poder, do cerco e das pres­sões a que, como temos visto, estão su­jeitos os tri­bu­nais e os ma­gis­trados. Uma si­tu­ação que está a causar danos na Jus­tiça, na sua imagem e cre­di­bi­li­dade. Mas também é justo re­co­nhecer que, no caso Casa Pia, foi feita jus­tiça ao fim destes longos anos, o que é bom para a Jus­tiça e so­bre­tudo para as ví­timas, que viram con­de­nados como cri­mi­nosos os seus agres­sores.

Daqui que­remos afirmar: o com­pro­misso do PCP é com uma po­lí­tica que as­se­gure, no res­peito pela Cons­ti­tuição da Re­pú­blica, uma Jus­tiça mais igua­li­tária, o acesso de todos à Jus­tiça, a au­to­nomia do Mi­nis­tério Pú­blico e a ver­da­deira in­de­pen­dência dos tri­bu­nais.

Travar-lhe o passo e mudar de rumo


É pe­rante esta evo­lução, in­se­pa­rável de uma po­lí­tica de ab­so­luto fa­vo­re­ci­mento dos in­te­resses dos grupos eco­nó­micos e do ca­pital fi­nan­ceiro, que nós di­zemos que o País pre­cisa de tomar outro rumo e que é ur­gente travar o passo a esta po­lí­tica, que com­pro­mete o fu­turo do País e de­grada e des­trói a vida dos por­tu­gueses.

É ne­ces­sário as­se­gurar a rup­tura com a po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal, que PS, PSD e CDS têm vindo a pros­se­guir ano após ano, e afirmar uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, que re­lance o País na senda do pro­gresso e do de­sen­vol­vi­mento. Uma po­lí­tica que aposte de­ci­si­va­mente na pro­dução na­ci­onal, va­lo­rize os nossos re­cursos, apoie as pe­quenas e mé­dias em­presas e as suas ac­ti­vi­dades quer para o mer­cado ex­terno, quer para o in­terno e tenha como ob­jec­tivo o pleno em­prego e o tra­balho com di­reitos. Uma po­lí­tica que co­loque no centro das suas pri­o­ri­dades uma mais justa re­par­tição da ri­queza, a va­lo­ri­zação do tra­balho, a pro­tecção so­cial dos por­tu­gueses na do­ença, no de­sem­prego e na ve­lhice e pro­mova a jus­tiça so­cial. Aqui, sim, é que era pre­ciso ter co­ragem, e não a falsa co­ragem para atacar os tra­ba­lha­dores. Uma po­lí­tica que en­frente com co­ragem os grandes grupos eco­nó­micos, pondo fim ao cho­cante re­gime de mor­do­mias e be­nesses fis­cais exis­tente e, ao mesmo tempo, com­bata a evasão fiscal, para apoiar e di­na­mizar o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico geral do País e me­lhorar a vida dos por­tu­gueses.

Não são apenas os mi­lhões de euros de lucro ob­tidos pela ex­torsão dos re­cursos na­ci­o­nais – 32 mil mi­lhões desde que o PS é Go­verno e re­la­tivos aos 17 prin­ci­pais grupos eco­nó­micos, e que são um in­sulto aos ren­di­mentos dos por­tu­gueses. São os mi­lhões que não pagam ao fisco. Caso da banca, que nestes pri­meiros seis meses do ano já lá vão 216 mi­lhões. Pagam pouco mais de dez por cento de im­postos, menos que qual­quer pe­quena em­presa ou tra­ba­lhador. Veja-se o caso da venda à Te­le­fó­nica da par­ti­ci­pação da Por­tugal Te­lecom na Vivo – onde os in­te­resses na­ci­o­nais foram, afinal, man­dados às ur­tigas – e em que os ac­ci­o­nistas da PT al­can­çaram mais de 6 mil mi­lhões de euros de mais-va­lias bol­sistas, fa­zendo-os passar por um pa­raíso fiscal na Ho­landa, sem pa­garem um euro de im­posto no nosso País!

Mas es­sen­ci­al­mente uma po­lí­tica que com­bata o dé­fice mais pre­o­cu­pante e de­ci­sivo que o País en­frenta – o dé­fice de pro­dução e cri­ação de ri­queza, que está na origem de todos os ou­tros nossos dé­fices. In­verta a si­tu­ação criada por dé­cadas de go­vernos de po­lí­tica de di­reita, onde os sec­tores es­sen­ci­al­mente pro­du­tivos – agri­cul­tura, sil­vi­cul­tura, pescas e in­dús­tria – viram o seu peso re­du­zido quase a me­tade, em con­traste com a cres­cente fi­nan­cei­ri­zação da eco­nomia na­ci­onal e o en­di­vi­da­mento do País.

Por­tugal, em vez de pro­duzir cada vez menos e se en­di­vidar cada vez mais, como está a acon­tecer, o que pre­cisa é de pro­duzir cada vez mais para dever cada vez menos. E porque este é o ver­da­deiro ca­minho para com­bater a crise, ga­rantir a so­be­rania do País e o bem-estar dos por­tu­gueses, o nosso Par­tido dará uma re­no­vada cen­tra­li­dade na sua acção po­lí­tica nos pró­ximos meses à con­cre­ti­zação de uma cam­panha em de­fesa da pro­dução na­ci­onal sob o lema «Por­tugal a Pro­duzir».

O País não pode aceitar o que está a acon­tecer. Temos aí o exemplo dos ce­reais, num mo­mento em que au­menta o preço do pão. Por­tugal no pre­sente ano vai re­gistar uma das pi­ores co­lheitas de ce­reais das úl­timas dé­cadas. Nos úl­timos 20 anos as co­lheitas de ce­reais de In­verno caíram mais de 60 por cento, em re­sul­tado do aban­dono das terras e da re­forma da PAC.

Esta é uma re­a­li­dade que dá cada vez mais razão e ac­tu­a­li­dade ao que vimos afir­mando e pro­pondo, quando di­zemos que Por­tugal pre­cisa de uma nova po­lí­tica agrí­cola para o País e de uma nova Re­forma Agrária nos campos do Sul. Uma Re­forma Agrária que ponha fim à cul­tura do sub­sídio sem cor­res­pon­dência com a pro­dução, que ali­menta o ab­sen­tismo la­ti­fun­diário, e que en­tregue a terra a quem a tra­balhe, in­cluindo aos pe­quenos agri­cul­tores. Uma re­forma que con­cre­tize a nossa pro­posta de cri­ação de um Banco de Terras, no ime­diato para a zona ir­ri­gada de in­fluência do Al­queva e de forma cres­cen­te­mente abran­gente para toda a zona da grande pro­pri­e­dade la­ti­fun­diária.

Uma Re­forma Agrária nos campos do Sul e uma nova po­lí­tica agrí­cola e flo­restal para os campos do Norte que a re­cente vaga de in­cên­dios veio tornar ina­diável. Uma nova po­lí­tica que res­peite e con­si­dere es­tra­té­gica a agri­cul­tura fa­mi­liar e os pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores, lhes per­mita ga­rantir um ren­di­mento justo e com­pen­sador, sal­va­guar­dando a so­be­rania ali­mentar do País.

Por­tugal pre­cisa de adoptar uma po­lí­tica de Es­tado em de­fesa e pro­moção da pro­dução na­ci­onal, in­cluindo a ur­gente de­fi­nição e con­cre­ti­zação de um pro­grama na­ci­onal de de­sen­vol­vi­mento in­dus­trial, con­dição para a mo­der­ni­zação do País.


A luta que cons­trói

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Existem políticas alternativas, é preciso um Governo para as concretizar! Por isso dizemos aos trabalhadores, ao nosso povo, aos portugueses: não se resignem! Engrossem a corrente de luta que dê uma forte resposta à ofensiva que aí está e, ao mesmo tempo, lutem pela afirmação de uma verdadeira alternativa patriótica e de esquerda para o País!

A cada me­dida, a cada in­ves­tida que vise es­magar os in­te­resses po­pu­lares é pre­ciso res­ponder, le­van­tando a ca­beça, to­mando nas mãos a luta, as pe­quenas e as grandes lutas, rom­pendo o cerco das in­jus­tiças, para passar à ofen­siva!

Daqui sau­damos todos os que por esse país fora lutam nas em­presas, nos campos, na rua pelos seus in­te­resses co­lec­tivos, pelos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo, e ex­pres­samos a nossa so­li­da­ri­e­dade e o nosso de­ci­dido em­penho para o êxito das lutas que estão em curso, no­me­a­da­mente a grande jor­nada na­ci­onal do pró­ximo dia 29 de Se­tembro, con­vo­cada pela CGTP-IN. E desta tri­buna que­remos saudar o seu qua­dra­gé­simo ani­ver­sário, a ce­le­brar em Ou­tubro, con­fi­antes de que con­ti­nuará a ser a grande Cen­tral Sin­dical dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses, ali­cer­çada nos seus prin­cí­pios uni­tá­rios, de­mo­crá­ticos, de in­de­pen­dência, de massas e de classe.

No ho­ri­zonte da nossa ac­ti­vi­dade e do nosso tra­balho es­tará a di­na­mi­zação e in­ten­si­fi­cação da luta e do re­forço do mo­vi­mento de massas – or­ga­nizar, di­na­mizar e juntar na mesma luta todos os que, ví­timas desta po­lí­tica, as­piram à mu­dança. Esta é uma ta­refa cen­tral! Nós não de­sar­ma­remos, nem re­nun­ci­a­remos aos com­bates que é pre­ciso travar. Mesmo quando tra­vamos a luta de re­sis­tência es­tamos a pensar na luta que cons­trói.

É pre­ciso con­ti­nuar a exigir a anu­lação das me­didas de aus­te­ri­dade contra os tra­ba­lha­dores e o povo. Travar a ofen­siva do PEC e a sua con­cre­ti­zação através do Or­ça­mento do Es­tado para 2011. Um Or­ça­mento mar­cado pela sui­cida e ina­cei­tável de­cisão da an­te­ci­pação do ca­len­dário da re­dução do dé­fice. Um Or­ça­mento que se anuncia, por isso, com mais gra­vosas me­didas de aus­te­ri­dade, novos cortes nos di­reitos so­ciais, contra os ser­viços pú­blicos e a Ad­mi­nis­tração Pú­blica, com au­mento da carga fiscal para as di­versas ca­madas da po­pu­lação tra­ba­lha­dora e con­ge­la­mento do in­ves­ti­mento. Um Or­ça­mento assim só pode ter o nosso mais firme com­bate, com de­núncia e com pro­postas.

Daqui anun­ci­amos ini­ci­a­tivas ori­en­tadas para o au­mento dos ren­di­mentos do tra­balho, ele­mento es­sen­cial para me­lhorar as con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e para po­ten­ciar o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico. Desde logo a re­vo­gação, já no pró­ximo Or­ça­mento, da ta­xação adi­ci­onal do IRS que cons­titui um ver­da­deiro roubo nos sa­lá­rios. O claro es­ta­be­le­ci­mento do ob­jec­tivo do au­mento do sa­lário mí­nimo, pelo menos até 600 euros, em 2013. A fi­xação de um au­mento sa­la­rial para os tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica que per­mita com­pensar parte do poder de compra per­dido nos úl­timos dez anos. Assim como re­to­ma­remos a pro­posta para alargar o acesso ao sub­sídio de de­sem­prego.

Apre­sen­ta­remos as ini­ci­a­tivas ur­gentes que os cortes no acesso às pres­ta­ções so­ciais exigem para eli­minar as in­justas e ar­bi­trá­rias li­mi­ta­ções nos cri­té­rios de acesso a pres­ta­ções como o com­ple­mento so­li­dário para idosos, o sub­sídio so­cial de de­sem­prego e o abono de fa­mília, entre ou­tros.

Para PS e PSD, sempre la­xistas com as be­nesses e tra­paças do ca­pital, os po­bres têm de provar que são cada vez mais po­bres. Não nos con­for­mamos com este ca­minho e esta opção de classe. É para con­frontar o Go­verno com esta brutal in­jus­tiça que o PCP le­vará a de­bate este pro­blema, já na pró­xima se­mana, à reu­nião da Co­missão Per­ma­nente da As­sem­bleia da Re­pú­blica, e aí pro­porá a ime­diata re­vo­gação destas me­didas.

Como daqui enun­ci­amos o firme pro­pó­sito de re­tomar no pró­ximo Or­ça­mento do Es­tado as pro­postas que temos vindo a apre­sentar no plano fiscal para in­tro­duzir maior jus­tiça e re­co­lher re­ceitas para o Es­tado onde elas podem ser re­co­lhidas, ou seja, junto dos que mais têm. Aí se in­cluem: um novo im­posto sobre as tran­sac­ções em Bolsa e trans­fe­rên­cias fi­nan­ceiras para os pa­raísos fis­cais; a ga­rantia de que a taxa de 25 por cento pre­vista no IRC se aplique efec­ti­va­mente a todos os grupos eco­nó­micos com lu­cros su­pe­ri­ores a 50 mi­lhões de euros, de­sig­na­da­mente a banca, im­pe­dindo assim o re­ga­bofe da uti­li­zação de be­ne­fí­cios fis­cais que levam à apli­cação de taxas de me­tade, ou menos, do que a lei prevê; o fim das isen­ções e be­ne­fí­cios para as em­presas fi­nan­ceiras no offshore da Ma­deira; a apli­cação de uma taxa adi­ci­onal sobre os bens de luxo, iates, aviões a jacto, carros de ele­vado valor, imó­veis de valor su­pe­rior a um mi­lhão de euros. Como ainda pro­po­remos me­didas ten­dentes ao con­ge­la­mento dos preços da elec­tri­ci­dade e dos com­bus­tí­veis, que sis­te­ma­ti­ca­mente au­mentam, en­gor­dando os lu­cros da GALP e da EDP à custa da ge­ne­ra­li­dade dos por­tu­gueses e da eco­nomia na­ci­onal.

À volta do Or­ça­mento para 2011 temos as­sis­tido a uma es­pécie de «jogos flo­rais de Verão» entre PS e PSD, onde cada um mos­trou os seus dotes cri­a­tivos na arte dra­má­tica, da dis­si­mu­lação e da pan­to­mima. En­ce­naram uma crise po­lí­tica, para me­lhor ca­mu­flarem as suas co­ni­vên­cias, os seus acordos, as suas res­pon­sa­bi­li­dades e dis­far­çarem a iden­ti­dade das suas po­lí­ticas e man­terem aberta a via do ro­ta­ti­vismo da al­ter­nância sem al­ter­na­tiva!

O PS apro­veitou para dis­sertar sobre um país pin­tado a cor-de-rosa que não existe. O PSD, para dis­farçar o seu apoio e o seu acordo com o PS sobre o corte nos sa­lá­rios e nos apoios so­ciais e o au­mento dos im­postos.

Nin­guém se iluda! Se com o PS nada mudou na di­fícil vida dos por­tu­gueses, ao con­trário tudo pi­orou, com o PSD (com ou sem o CDS), nada mu­dará, tudo con­ti­nuará a agravar-se! Com uns e com ou­tros é a po­lí­tica ao ser­viço dos grandes in­te­resses que con­tinua! É a po­lí­tica das in­jus­tiças so­ciais e da con­cen­tração da ri­queza que per­ma­nece!

É co­nhe­cida a in­to­le­rância da po­lí­tica de di­reita para com a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica. Ao longo de mais de trinta anos, PS, PSD e CDS le­gis­laram em con­flito com a Cons­ti­tuição, vi­o­laram dis­po­si­ções e va­lores cons­ti­tu­ci­o­nais, agre­diram di­reitos e con­quistas que ela con­sagra, cons­pi­raram à margem da As­sem­bleia da Re­pú­blica para impor novas mu­ti­la­ções em cada pro­cesso de re­visão. Todos e cada um por si, in­con­for­mados com os va­lores e di­reitos que ela con­sagra, pro­curam, no que go­vernam e no que le­gislam, fazer dela letra morta en­quanto con­ge­minam novos ata­ques na re­visão que se segue.

Aí está no­va­mente, pela mão do PSD, um novo pro­jecto de sub­versão cons­ti­tu­ci­onal. E aí está de novo o PS a fazer-se de cho­cado e in­dig­nado com o que o PSD propõe, quando é co­nhe­cido que muito do que este agora propõe de mu­ti­lação de di­reitos e de al­te­ra­ções muito ne­ga­tivas da di­mensão eco­nó­mica e so­cial da Cons­ti­tuição está em curso pela acção go­ver­na­tiva do PS. E aí estão de novo, PS e PSD, ace­nando com aquela troca de ga­lhar­detes que todos sa­bemos acabar em amis­tosa mesa de ne­go­ci­ação de oferta e venda de di­reitos – do tipo dá cá or­ça­mento, leva lá di­reitos ou fun­ções so­ciais - que con­du­ziria, se os dei­xarem, a re­mover da Cons­ti­tuição o que atra­palha a sua po­lí­tica de re­tro­cesso so­cial e eco­nó­mico.

É no quadro desta ofen­siva e destes pro­jectos que as elei­ções pre­si­den­ciais as­sumem uma ine­gável im­por­tância no quadro da ac­tual si­tu­ação do País. Quando Por­tugal está con­fron­tado com uma si­tu­ação mar­cada pelas in­jus­tiças, o re­tro­cesso so­cial e o de­clínio na­ci­onal, quando pesam sobre o re­gime de­mo­crá­tico novas ame­aças, quando se adensam novos ata­ques aos di­reitos e in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo e à Cons­ti­tuição da Re­pú­blica, quando a so­be­rania e a in­de­pen­dência na­ci­o­nais são com­pro­me­tidas, as elei­ções pre­si­den­ciais, pelo seu pro­cesso, di­nâ­mica e de­ci­sões sobre as op­ções e ori­en­ta­ções do órgão de so­be­rania Pre­si­dência da Re­pú­blica, exer­cerão uma im­por­tante in­fluência nas con­di­ções para de­fender os va­lores de Abril e abrir ca­minho a uma nova fase da vida na­ci­onal.

É por tudo isto que a can­di­da­tura do PCP, as­su­mida e bem pelo ca­ma­rada Fran­cisco Lopes, emerge com re­do­brada ac­tu­a­li­dade e im­por­tância. Uma can­di­da­tura dis­tinta e dis­tin­tiva, que se apre­senta pe­rante os tra­ba­lha­dores e o povo com um pro­jecto claro de mu­dança de­ci­dida, a afirmar e mo­bi­lizar em torno de um grande pro­jecto po­lí­tico, pa­trió­tico e de es­querda, capaz de en­frentar a gra­vi­dade da si­tu­ação a que o País chegou e lançar Por­tugal no ca­minho do de­sen­vol­vi­mento, da jus­tiça e do pro­gresso so­cial. Uma can­di­da­tura em­pe­nhada na de­núncia da prá­tica ne­ga­tiva do ac­tual Pre­si­dente da Re­pú­blica e na con­tri­buição para a der­rota do can­di­dato da di­reita. Uma can­di­da­tura sin­gular e um can­di­dato, únicos no seu per­curso e pro­jecto, sem com­pro­me­ti­mentos ou cum­pli­ci­dades com a po­lí­tica de di­reita, sem am­bi­gui­dades ou equí­vocos pe­rante a rup­tura e mu­dança in­dis­pen­sá­veis ao País, li­berta de apoios dos que são res­pon­sá­veis pelo ca­minho de in­jus­tiças, ex­plo­ração, re­tro­cesso so­cial e de­clínio eco­nó­mico na vida na­ci­onal.

Uma can­di­da­tura com­pro­me­tida com as as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores, pre­sente e so­li­dária na sua luta por uma vida me­lhor e mais digna, por­ta­dora de um pro­jecto de rup­tura e mu­dança, con­fi­ante e de­ter­mi­nada, di­ri­gida aos tra­ba­lha­dores, aos jo­vens, a todos os de­mo­cratas e pa­tri­otas. De­ci­dimos bem! Es­tamos con­fi­antes que o ca­ma­rada Fran­cisco Lopes vai dar boa conta desta res­pon­sa­bi­li­dade, afir­mando que vai contar com o nosso em­pe­nha­mento so­li­dário e mi­li­tante.


Mais força ao PCP


A con­cre­ti­zação do con­junto dos ob­jec­tivos que pro­pomos e da al­ter­na­tiva à po­lí­tica de di­reita pela qual lu­tamos exige o de­sen­vol­vi­mento da luta de massas, mas exige igual­mente um PCP mais forte. Um Par­tido mais forte na sua or­ga­ni­zação, in­ter­venção e in­fluência, na mi­li­tância e na sua li­gação pro­funda com os in­te­resses, as as­pi­ra­ções e as lutas dos tra­ba­lha­dores e do povo. Um par­tido mais forte que cons­truímos todos os dias e que se ma­te­ri­a­liza com a acção «Avante! Por um PCP mais forte», como de­monstra o facto de desde o início do ano en­trarem para as nossas fi­leiras mais 1200 novos mi­li­tantes, 55 por cento dos quais com menos de qua­renta anos!

O PCP cumpre o seu papel, o PCP avança con­fi­ante e de­ter­mi­nado. Avança com os tra­ba­lha­dores e o povo, avança com o seu po­de­roso co­lec­tivo mi­li­tante, que daqui sau­damos. Sau­damos os mem­bros do Par­tido que, em con­di­ções exi­gentes, cons­troem e re­forçam as or­ga­ni­za­ções das em­presas e lo­cais e tra­balho, bem como as or­ga­ni­za­ções lo­cais. Sau­damos os mi­li­tantes pela re­a­li­zação das mais di­versas ta­refas, das mais evi­den­ci­adas às menos vi­sí­veis mas não menos im­por­tantes, e aqui re­gis­tamos o tra­balho dos que quo­ti­di­a­na­mente se em­pe­nham na re­colha das quo­ti­za­ções e dos fundos do Par­tido, dos que todas as se­manas se en­car­regam da dis­tri­buição e venda do Avante!. Ta­refas tanto mais re­le­vantes quando, por im­po­sição da Lei de Fi­nan­ci­a­mento dos Par­tidos, em que por en­ten­di­mento do PS, PSD e CDS se criou um re­gime que co­lide com os prin­cí­pios cons­ti­tu­ci­o­nais e em que au­menta o fi­nan­ci­a­mento pú­blico aos par­tidos po­lí­ticos e ta­lham à me­dida a li­mi­tação das ac­ti­vi­dades e livre ini­ci­a­tiva pró­pria e a or­ga­ni­zação do PCP.

É o caso das normas es­ta­be­le­cidas na lei para as ini­ci­a­tivas de an­ga­ri­ação de fundos, de­sig­na­da­mente aquelas que en­volvem a oferta de bens e ser­viços, como a Festa do Avante!. É ab­surdo que se im­ponha à par­tida li­mites de fi­nan­ci­a­mento a ini­ci­a­tivas deste tipo ou de ini­ci­a­tivas le­gí­timas si­mi­lares, que em nada afectam a trans­pa­rência do fi­nan­ci­a­mento do par­tido pro­motor. É o caso da des­ca­bida li­mi­tação, a 50 sa­lá­rios mí­nimos anuais, de pe­quenas re­ceitas em nu­me­rário, obri­gando, por exemplo, a que as quotas ou con­tri­bui­ções dos mi­li­tantes dos par­tidos fossem, na sua quase to­ta­li­dade, pagas por cheque ou outro meio ban­cário. É o caso ainda da norma que pe­na­liza todos os que an­ga­riam pelos seus pró­prios meios con­tri­bui­ções para a cam­panha elei­toral, com a re­dução da sub­venção do Es­tado no mon­tante ob­tido, dis­tri­buindo esse valor pelos res­tantes par­tidos. Um outro ab­surdo!

Sob a capa da trans­pa­rência, o que ver­da­dei­ra­mente de­sejam é im­pedir a re­a­li­zação da Festa do Avante! e li­mitar a par­ti­ci­pação mi­li­tante na an­ga­ri­ação de fundos, trans­for­mando os par­tidos em re­par­ti­ções pú­blicas vi­vendo às custas do Or­ça­mento do Es­tado. Uma lei que visa im­pedir ou con­di­ci­onar a re­a­li­zação da maior ini­ci­a­tiva po­lí­tica, cul­tural do País e que põe em causa a mi­li­tância par­ti­dária não é uma lei trans­pa­rente nem é uma lei de­mo­crá­tica.

O PCP con­tinua a de­fender e a exigir a trans­pa­rência em ma­téria de fi­nan­ci­a­mento par­ti­dário, mas as re­gras de trans­pa­rência não podem ser con­fun­didas com in­ge­rência na li­ber­dade de or­ga­ni­zação de cada par­tido. Vamos con­ti­nuar a propor que tais en­torses da lei sejam cor­ri­gidas, mas não pensem que por esta via acabam com a Festa do Avante! ou com a in­de­pen­dência do PCP.

Mas, se sau­damos e va­lo­ri­zamos os que se em­pe­nham nessa im­por­tante ta­refa da re­colha de fundos para o Par­tido, sau­damos igual­mente os que tra­ba­lham nas or­ga­ni­za­ções de massas e nas ins­ti­tui­ções. Sau­damos as mu­lheres co­mu­nistas e a sua cres­cente par­ti­ci­pação par­ti­dária. Sau­damos a Ju­ven­tude Co­mu­nista Por­tu­guesa, o êxito do seu IX Con­gresso, re­a­li­zado sob o lema «Com a luta da ju­ven­tude, cons­truir o fu­turo», a sua com­ba­ti­vi­dade, cri­a­ti­vi­dade e ini­ci­a­tiva.

Fa­lando do Par­tido da sua or­ga­ni­zação e for­ta­le­ci­mento, da sua cons­tante re­no­vação e re­ju­ve­nes­ci­mento, sau­damos os novos mi­li­tantes, a sua adesão e par­ti­ci­pação, e di­ri­gimo-nos a todos aqueles que querem um rumo novo de de­sen­vol­vi­mento, jus­tiça e pro­gresso so­cial e en­tendem que chegou o mo­mento de agir, di­zendo-lhes que o seu lugar é no PCP. Que o seu lugar é no par­tido cuja iden­ti­dade e com­pro­misso lhe dá esta dis­tinta forma de ser, de estar e de agir, ex­pressão de ge­ne­ro­si­dade e de­di­cação, que o seu lugar é neste grande co­lec­tivo, ímpar na so­ci­e­dade por­tu­guesa, sempre ao ser­viço dos tra­ba­lha­dores, do povo, de Por­tugal, sempre ori­en­tado pela so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista e a ami­zade entre os tra­ba­lha­dores e os povos de todo o mundo.

As ad­ver­si­dades e os obs­tá­culos não nos in­ti­midam, como sempre de­mons­trámos na nossa longa his­tória. O PCP é um par­tido de con­fi­ança, que está na linha da frente dos grandes com­bates que hoje se travam, que ana­lisa e de­nuncia co­ra­jo­sa­mente a si­tu­ação e os pro­blemas, o único que mo­bi­liza, or­ga­niza e dá con­fi­ança à luta dos tra­ba­lha­dores e do povo.

O Par­tido que tem pro­postas, so­lu­ções, um pro­jecto al­ter­na­tivo para o País. O Par­tido que as­sume uma in­tensa, co­e­rente e qua­li­fi­cada in­ter­venção nas ins­ti­tui­ções e está de­ter­mi­nado a as­sumir todas as res­pon­sa­bi­li­dades que o povo por­tu­guês lhe en­tenda atri­buir.

Nos tempos di­fí­ceis que se vive, como em todas as si­tu­a­ções, a ju­ven­tude, os tra­ba­lha­dores, o povo e o País podem contar com o PCP, par­tido ne­ces­sário, in­dis­pen­sável e in­subs­ti­tuível na luta contra o ca­pi­ta­lismo, a ex­plo­ração, o de­sem­prego, as in­jus­tiças e de­si­gual­dades so­ciais. Par­tido que abraça o ideal e pro­jecto co­mu­nista com uma ini­gua­lável força nas con­vic­ções e na jus­teza do com­bate que trava, como de­mons­traram, ao longo de uma vida toda, a ca­ma­rada Sofia Fer­reira e o ca­ma­rada Dias Lou­renço, que nos dei­xaram este ano.

Par­tido cujo pro­jecto se iden­ti­fica com a pers­pec­tiva de um País mais de­sen­vol­vido e mais justo, que luta por uma de­mo­cracia avan­çada e pelo so­ci­a­lismo, por uma so­ci­e­dade livre da ex­plo­ração e da opressão e que con­cre­tize as mais pro­fundas as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores, da ju­ven­tude, do povo. Aqui re­a­fir­mamos esse com­pro­misso de tantas ge­ra­ções, que pro­jec­tamos no pre­sente e no fu­turo. Assim é e tudo fa­remos para que seja o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês.



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